Você adora tudo o que a minha gente fez e faz
A capoeira, o samba, a percurssão, a dança, a voz
Reverencia o legado do afro-brasileiro
Consegue passar horas na mesa do bar falando de peito aberto sobre a importância da tradição
Pede proteção aos nosso orixás
Respira tudo que é nosso mas não gosta da gente
Não enxerga as pessoas negras como seres que precisam
Assim como os seus amigos brancos
De conversa jogada para fora, acolhimento, respeito
Coloca toda a nossa cultural em um pedestal
Mas no dia-à-dia vira a cara para o que a corporeidade negra é
Somos grandes, falamos alto, trazemos o axé como base dos nossos corpos
Será que meu interesse em você é um ódio reprimido?
Eu já sei a história, já estive aqui
Na sua vida a mulher negra não é alvo de amor ou interesse
Na sua vida não somos nada mais do que avós, mães, talvez mestras
Mas não humanas
Os corpos que você admira são aqueles que não se parecem com os das mulheres na minha família
As vozes que você respeita e que tomam espaço são de mulheres brancas
Privilegiadas como você
Será que meu interesse em você nasce do saber que você nunca vai me enxergar pelo o que sou
Que sua admiração vai sempre perpassar o divino, o abstrato
E nunca o lugar de cuidado, comunidade e amor
Eu deixo aqui a ideia de você
Eu deixo aqui a ideia de que tenho que ser algo por você
Que tenho que me portar de algum jeito
Que tenho que negar a minha ancestralidade
Os meus traços
Tudo aqui que me faz eu, e que faz o povo negro ser o que é
E que foi a razão pela qual criamos e seguimos criando coisas que você vai admirar
Mas não eu
Nunca eu